domingo, 29 de agosto de 2010

ESCOLA: vilã ou vítima?

Rosane Roehrs Gelati
Publicado no Jornal Tribuna de Uruguaiana em 18/06/2010 e no
periódico Letras Santiaguenses em julho/agosto 2010

A educação sempre merece ser debatida. Precisamos rever alguns conceitos e valores. Devemos olhar de frente os problemas educacionais.
Dois fatos me fazem refletir: uma frase de uma Delegada de Polícia e uma crônica do Juremir Machado da Silva (Correio do Povo 04/05/10).
O primeiro fato, a frase de uma Delegada, em palestra para alunos de Ensino Médio foi mais ou menos assim: “A ficha suja de um jovem vai acompanhá-lo para sempre; pesa muito se fizer um concurso para Juiz, Promotor, Inspetor, Advogado e até mesmo para Professor”. Na plateia, vários Professores. Tentou consertar. Não deu. Foi espontâneo, natural. Falou o que pensava. “Até para Professor”. Ela disse o que a maioria pensa: profissão de pouco reconhecimento. Ela esqueceu seus professores?
Associamos a qualidade ao salário? Como se qualificar se o professor não tem dinheiro nem para pagar a assinatura de um jornal? Como estar atualizado se ele trabalha doze horas diárias, em três turnos e às vezes, em escolas diferentes, além das atividades extraclasses? Internet? É preciso ter computador e a manutenção é cara. As aulas deixam a desejar? Claro que deixam, é o famoso efeito cascata e a escola é o final da linha.
A educação vai mal há décadas e a causa não é o mau desempenho da escola. Este desempenho é consequência do que não está bem na sociedade. Os investimentos aumentaram, mas são insuficientes e ainda não sentimos os efeitos positivos. O processo é lento e deve ser abraçado por todos e por todos os governos.
Há uma década foram criadas metas para a educação com o slogan “Todos Pela Educação”. São metas pedagógicas e econômicas, mas em investimento; nada na melhoria de salário. Muito lindo: “Toda a criança e jovem de 4 a 17 anos na escola”, “Investimento na educação ampliado e bem gerido”. Onde está a valorização do professor? Agora foi aprovado o CAQi (Custo Aluno-Qualidade Inicial). Talvez seja aquilo que espero, pois “estabelece insumos fundamentais para garantir a aprendizagem dos estudantes...”
Educação não é sinônimo de sacerdócio. Se o salário não é importante, por que existem profissões bem pagas?
Metas são necessárias e precisam ser cobradas pelos governantes, porém, paralelamente a isso precisa haver investimento e valorização. Também é necessário dividir os bons resultados, quando os têm, com as escolas. O mau desempenho deve ser dividido, pois, além de injusto, o fardo é muito pesado para ser carregado sozinho pelas escolas.
O segundo fato foi o texto Ode aos professores. Eram mais de 23 horas quando voltei do colégio. Peguei o jornal para me informar, relaxar e depois dormir. Ganhei o dia. Alegrei-me um pouco por não estar sozinha e esquecer o que a Delegada disse. Deu-me forças para continuar lutando. O cronista fala aquilo que muitos não querem ler, falar ou ouvir: os professores são vítimas, não vilões. Comungo com suas ideias. Existem professores muuuuuuuito bons, excelentes, ótimos e mal remunerados nos serviços público e no privado. O magistério tem “suas pérolas”, mas qual a profissão que não as tem?
Precisamos corrigir as distorções das escolas e mesmo com um salário pequeno, preciso dar o melhor a meus alunos, pois eles são tão vítimas quanto o restante da sociedade com uma política despreocupada com os direitos constitucionais dos cidadãos. O desempenho dos professores depende de muitos fatores e não podemos nos esquecer daqueles que têm as rédeas da educação. O papo que o professor dentro da sala de aula faz acontecer, se quiser, é verdade, mas dentro da limitação imposta, como ao cirurgião em uma cirurgia se lhe faltar material. O professor, hoje, precisa concorrer com a internet, os videogames e a televisão. Estamos na era da informática, dos lares desfeitos, da geração que pratica o bullyng a alunos e professores, da falta de ética e respeito, de pais que não acompanham os filhos, de uma avalanche de drogas pesadas e isso tudo vai para a sala de aula. Vire-se professor. Você está sendo pago para resolver. Poupem-me. Fiquem na frente de trinta a cinquenta alunos algumas horas e voltamos a conversar.
A educação tem solução. É só concretizar os planos de campanha eleitoral. É questão de prioridade e de atitude. Tá na hora de mudar o foco. Hoje, é preciso muita categoria para ser Professor.
rosane.r.gelati@gmail.com

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