O Instituto Estadual de educação Elisa Ferrari Valls, participou da Olimpíada de Língua Portuguesa - Escrvendo O Futuro/2010. Os primeiros anos do Ensino Médio de todo país concorriam pelo gênero Crônica e o tema era “O lugar onde vivo”. Incontáveis foram os textos participantes, mas somente um pôde ser escolhido. Foram selecionados alguns e os finalistas do noturno foram dos seguintes alunos e suas respectivvas turmas:
2º lugar na escola: Aluno: José Matheus da Silva Ferreira / Turma: 1° C, ,
Destaques:
a) Aluno: Dionathan Mandeita / Turma: 1° D /
b) Aluna: Camilla Junges / Turma: 1° A Quem quiser conhecer os texto, estão no blog www.espichandoaconversa.blogspot.com.a partir de segunda-feira, dia 30/08.
Parabéns aos alunos participantes e principalmente aos finalistas. Um forte abraço da professora Rosane
Este espaço é nosso. Podemos trocar ideias, receitas, elogios, críticas e tudo mais. Seja bem-vindo!
domingo, 29 de agosto de 2010
ESCOLA: vilã ou vítima?
Rosane Roehrs Gelati
Publicado no Jornal Tribuna de Uruguaiana em 18/06/2010 e no
periódico Letras Santiaguenses em julho/agosto 2010
A educação sempre merece ser debatida. Precisamos rever alguns conceitos e valores. Devemos olhar de frente os problemas educacionais.
Dois fatos me fazem refletir: uma frase de uma Delegada de Polícia e uma crônica do Juremir Machado da Silva (Correio do Povo 04/05/10).
O primeiro fato, a frase de uma Delegada, em palestra para alunos de Ensino Médio foi mais ou menos assim: “A ficha suja de um jovem vai acompanhá-lo para sempre; pesa muito se fizer um concurso para Juiz, Promotor, Inspetor, Advogado e até mesmo para Professor”. Na plateia, vários Professores. Tentou consertar. Não deu. Foi espontâneo, natural. Falou o que pensava. “Até para Professor”. Ela disse o que a maioria pensa: profissão de pouco reconhecimento. Ela esqueceu seus professores?
Associamos a qualidade ao salário? Como se qualificar se o professor não tem dinheiro nem para pagar a assinatura de um jornal? Como estar atualizado se ele trabalha doze horas diárias, em três turnos e às vezes, em escolas diferentes, além das atividades extraclasses? Internet? É preciso ter computador e a manutenção é cara. As aulas deixam a desejar? Claro que deixam, é o famoso efeito cascata e a escola é o final da linha.
A educação vai mal há décadas e a causa não é o mau desempenho da escola. Este desempenho é consequência do que não está bem na sociedade. Os investimentos aumentaram, mas são insuficientes e ainda não sentimos os efeitos positivos. O processo é lento e deve ser abraçado por todos e por todos os governos.
Há uma década foram criadas metas para a educação com o slogan “Todos Pela Educação”. São metas pedagógicas e econômicas, mas em investimento; nada na melhoria de salário. Muito lindo: “Toda a criança e jovem de 4 a 17 anos na escola”, “Investimento na educação ampliado e bem gerido”. Onde está a valorização do professor? Agora foi aprovado o CAQi (Custo Aluno-Qualidade Inicial). Talvez seja aquilo que espero, pois “estabelece insumos fundamentais para garantir a aprendizagem dos estudantes...”
Educação não é sinônimo de sacerdócio. Se o salário não é importante, por que existem profissões bem pagas?
Metas são necessárias e precisam ser cobradas pelos governantes, porém, paralelamente a isso precisa haver investimento e valorização. Também é necessário dividir os bons resultados, quando os têm, com as escolas. O mau desempenho deve ser dividido, pois, além de injusto, o fardo é muito pesado para ser carregado sozinho pelas escolas.
O segundo fato foi o texto Ode aos professores. Eram mais de 23 horas quando voltei do colégio. Peguei o jornal para me informar, relaxar e depois dormir. Ganhei o dia. Alegrei-me um pouco por não estar sozinha e esquecer o que a Delegada disse. Deu-me forças para continuar lutando. O cronista fala aquilo que muitos não querem ler, falar ou ouvir: os professores são vítimas, não vilões. Comungo com suas ideias. Existem professores muuuuuuuito bons, excelentes, ótimos e mal remunerados nos serviços público e no privado. O magistério tem “suas pérolas”, mas qual a profissão que não as tem?
Precisamos corrigir as distorções das escolas e mesmo com um salário pequeno, preciso dar o melhor a meus alunos, pois eles são tão vítimas quanto o restante da sociedade com uma política despreocupada com os direitos constitucionais dos cidadãos. O desempenho dos professores depende de muitos fatores e não podemos nos esquecer daqueles que têm as rédeas da educação. O papo que o professor dentro da sala de aula faz acontecer, se quiser, é verdade, mas dentro da limitação imposta, como ao cirurgião em uma cirurgia se lhe faltar material. O professor, hoje, precisa concorrer com a internet, os videogames e a televisão. Estamos na era da informática, dos lares desfeitos, da geração que pratica o bullyng a alunos e professores, da falta de ética e respeito, de pais que não acompanham os filhos, de uma avalanche de drogas pesadas e isso tudo vai para a sala de aula. Vire-se professor. Você está sendo pago para resolver. Poupem-me. Fiquem na frente de trinta a cinquenta alunos algumas horas e voltamos a conversar.
A educação tem solução. É só concretizar os planos de campanha eleitoral. É questão de prioridade e de atitude. Tá na hora de mudar o foco. Hoje, é preciso muita categoria para ser Professor.
rosane.r.gelati@gmail.com
Publicado no Jornal Tribuna de Uruguaiana em 18/06/2010 e no
periódico Letras Santiaguenses em julho/agosto 2010
A educação sempre merece ser debatida. Precisamos rever alguns conceitos e valores. Devemos olhar de frente os problemas educacionais.
Dois fatos me fazem refletir: uma frase de uma Delegada de Polícia e uma crônica do Juremir Machado da Silva (Correio do Povo 04/05/10).
O primeiro fato, a frase de uma Delegada, em palestra para alunos de Ensino Médio foi mais ou menos assim: “A ficha suja de um jovem vai acompanhá-lo para sempre; pesa muito se fizer um concurso para Juiz, Promotor, Inspetor, Advogado e até mesmo para Professor”. Na plateia, vários Professores. Tentou consertar. Não deu. Foi espontâneo, natural. Falou o que pensava. “Até para Professor”. Ela disse o que a maioria pensa: profissão de pouco reconhecimento. Ela esqueceu seus professores?
Associamos a qualidade ao salário? Como se qualificar se o professor não tem dinheiro nem para pagar a assinatura de um jornal? Como estar atualizado se ele trabalha doze horas diárias, em três turnos e às vezes, em escolas diferentes, além das atividades extraclasses? Internet? É preciso ter computador e a manutenção é cara. As aulas deixam a desejar? Claro que deixam, é o famoso efeito cascata e a escola é o final da linha.
A educação vai mal há décadas e a causa não é o mau desempenho da escola. Este desempenho é consequência do que não está bem na sociedade. Os investimentos aumentaram, mas são insuficientes e ainda não sentimos os efeitos positivos. O processo é lento e deve ser abraçado por todos e por todos os governos.
Há uma década foram criadas metas para a educação com o slogan “Todos Pela Educação”. São metas pedagógicas e econômicas, mas em investimento; nada na melhoria de salário. Muito lindo: “Toda a criança e jovem de 4 a 17 anos na escola”, “Investimento na educação ampliado e bem gerido”. Onde está a valorização do professor? Agora foi aprovado o CAQi (Custo Aluno-Qualidade Inicial). Talvez seja aquilo que espero, pois “estabelece insumos fundamentais para garantir a aprendizagem dos estudantes...”
Educação não é sinônimo de sacerdócio. Se o salário não é importante, por que existem profissões bem pagas?
Metas são necessárias e precisam ser cobradas pelos governantes, porém, paralelamente a isso precisa haver investimento e valorização. Também é necessário dividir os bons resultados, quando os têm, com as escolas. O mau desempenho deve ser dividido, pois, além de injusto, o fardo é muito pesado para ser carregado sozinho pelas escolas.
O segundo fato foi o texto Ode aos professores. Eram mais de 23 horas quando voltei do colégio. Peguei o jornal para me informar, relaxar e depois dormir. Ganhei o dia. Alegrei-me um pouco por não estar sozinha e esquecer o que a Delegada disse. Deu-me forças para continuar lutando. O cronista fala aquilo que muitos não querem ler, falar ou ouvir: os professores são vítimas, não vilões. Comungo com suas ideias. Existem professores muuuuuuuito bons, excelentes, ótimos e mal remunerados nos serviços público e no privado. O magistério tem “suas pérolas”, mas qual a profissão que não as tem?
Precisamos corrigir as distorções das escolas e mesmo com um salário pequeno, preciso dar o melhor a meus alunos, pois eles são tão vítimas quanto o restante da sociedade com uma política despreocupada com os direitos constitucionais dos cidadãos. O desempenho dos professores depende de muitos fatores e não podemos nos esquecer daqueles que têm as rédeas da educação. O papo que o professor dentro da sala de aula faz acontecer, se quiser, é verdade, mas dentro da limitação imposta, como ao cirurgião em uma cirurgia se lhe faltar material. O professor, hoje, precisa concorrer com a internet, os videogames e a televisão. Estamos na era da informática, dos lares desfeitos, da geração que pratica o bullyng a alunos e professores, da falta de ética e respeito, de pais que não acompanham os filhos, de uma avalanche de drogas pesadas e isso tudo vai para a sala de aula. Vire-se professor. Você está sendo pago para resolver. Poupem-me. Fiquem na frente de trinta a cinquenta alunos algumas horas e voltamos a conversar.
A educação tem solução. É só concretizar os planos de campanha eleitoral. É questão de prioridade e de atitude. Tá na hora de mudar o foco. Hoje, é preciso muita categoria para ser Professor.
rosane.r.gelati@gmail.com
A pobreza cobra seu preço
Rosane Roehrs gelati
Destaque no Concurso Literário Larí
Francescheto – Triunfo - RS
Era véspera do dia das mães e eu estava fazendo na minha “visita” semanal no supermercado. Com o chimarrão na mão, em pé aguardando a vez, trocando o peso de perna para não cansar muito, acompanhada da minha filha, percebi na fila ao lado duas menininhas, que pela semelhança fisionômica, concluí serem irmãs. Não havia contraste com a aparência humilde e o que seguravam para embrulhar. Cada uma possuía um pequeno pote de plástico transparente com tampa colorida, comprado nas lojas de R$ 1,00. Ao ser atendida, colocando os bracinhos sobre o balcão, olhos atentos, mostrando timidamente o que tinha na mão, uma pediu à atendente para fazer um embrulho para dar de presente à mãe.
O que era para ser somente um momento na fila para empacotar um presente transformou-se em uma, aliás, duas viagens ao passado, refletido naquilo que eu vi. A Psicologia explica essa volta ao passado diante de uma situação semelhante vivida por nós.
A primeira viagem foi a um remoto dia das mães, quando pequena eu e meus irmãos tínhamos comprado uma xícara com os dizeres “Querida mamãe” para dá-la a nossa mãe. Éramos quatro irmãos e não tínhamos dinheiro nenhum, nosso pai nem lembrava que dia era aquele. Compramos na cooperativa em que éramos associados por sermos agricultores, “na conta”. Fizemos um cartão e pacote simples e entregamos à mãe. Ela gostou. Elas sempre gostam. Mas quem não quer dar algo mais à mãe do que uma xícara ou um pote de plástico? Podem me chamar de materialista. Sei que sou, que todos somos, que vivemos num mundo capitalista e só prega que não é importante o dinheiro, quem o tem em abundância. As teorias de desapego e antimaterialista são feitas, normalmente, por quem recebe e dá enoooooormes presentes. Senti um aperto no peito, acompanhado de um misto de revolta e indignação. Um presente melhorzinho não faz mal a ninguém, normalmente o efeito positivo é maior em quem dá do quem em quem recebe. É claro que a gratidão, o carinho, o amor, etc... devem ser valorizados e acompanhar o embrulho. Obviamente. Um completa o outro. Minha mãe ainda tem a xícara e eu ainda tenho as lembranças.
A segunda foi a minha primeira série (agora ano) do Ensino Fundamental. Iniciava o 2° semestre. Eu estava chegando à cidade e consequentemente, à escola. Não tinha lápis preto de escrever e minha santa mãe providenciou um: deu-me um lápis preto de colorir. Sabíamos a diferença entre os lápis, que tinham funções diferentes e sabíamos, também, que não tínhamos dinheiro para comprar sequer um de escrever. Vínhamos de outro estado. Tudo era novo: cidade, parentes, costumes, escola, professores e colegas. Se não bastasse isso para mim, eu não tinha lápis. Lápis de escrever. Que vergonha: ir para a aula sem lápis. Já em aula, a professora alertou-me sobre o “equívoco” do lápis. Pediu que minha mãe comprasse outro para o dia seguinte. Disse que sim. Falei com a mãe, ela constrangida disse que não podia naquele dia, No outro dia tentei esconder minha mão, debrucei-me sobre o caderno, não ergui os olhos, mas a professora aproximou-se, olhou para minha mão e chamou minha atenção quando viu que eu não tinha comprado outro. Disse-lhe que havia me esquecido de falar para minha mãe. Deu-me, insensivelmente, mais um dia de prazo para providenciar outro. Que agonia! Que tristeza! Como falar pra minha mãe sem magoá-la mais? Resultado. Sem lápis e sem dinheiro, fiquei uns dias em casa dizendo que não estava bem, até que ganhei de uma tia um lápis para escrever. Abençoada tia.
O papel da professora vai muito além de ensinar conteúdos e ter sensibilidade é o primeiro requisito exigido para ser uma boa educadora, que desempenha vários papéis em sala de aula, dentre eles, de professora. A minha não tinha.
A pobreza cobra seu preço e só paga, pasmem, quem não tem dinheiro.
rosane.r.gelati@gmail.com
Destaque no Concurso Literário Larí
Francescheto – Triunfo - RS
Era véspera do dia das mães e eu estava fazendo na minha “visita” semanal no supermercado. Com o chimarrão na mão, em pé aguardando a vez, trocando o peso de perna para não cansar muito, acompanhada da minha filha, percebi na fila ao lado duas menininhas, que pela semelhança fisionômica, concluí serem irmãs. Não havia contraste com a aparência humilde e o que seguravam para embrulhar. Cada uma possuía um pequeno pote de plástico transparente com tampa colorida, comprado nas lojas de R$ 1,00. Ao ser atendida, colocando os bracinhos sobre o balcão, olhos atentos, mostrando timidamente o que tinha na mão, uma pediu à atendente para fazer um embrulho para dar de presente à mãe.
O que era para ser somente um momento na fila para empacotar um presente transformou-se em uma, aliás, duas viagens ao passado, refletido naquilo que eu vi. A Psicologia explica essa volta ao passado diante de uma situação semelhante vivida por nós.
A primeira viagem foi a um remoto dia das mães, quando pequena eu e meus irmãos tínhamos comprado uma xícara com os dizeres “Querida mamãe” para dá-la a nossa mãe. Éramos quatro irmãos e não tínhamos dinheiro nenhum, nosso pai nem lembrava que dia era aquele. Compramos na cooperativa em que éramos associados por sermos agricultores, “na conta”. Fizemos um cartão e pacote simples e entregamos à mãe. Ela gostou. Elas sempre gostam. Mas quem não quer dar algo mais à mãe do que uma xícara ou um pote de plástico? Podem me chamar de materialista. Sei que sou, que todos somos, que vivemos num mundo capitalista e só prega que não é importante o dinheiro, quem o tem em abundância. As teorias de desapego e antimaterialista são feitas, normalmente, por quem recebe e dá enoooooormes presentes. Senti um aperto no peito, acompanhado de um misto de revolta e indignação. Um presente melhorzinho não faz mal a ninguém, normalmente o efeito positivo é maior em quem dá do quem em quem recebe. É claro que a gratidão, o carinho, o amor, etc... devem ser valorizados e acompanhar o embrulho. Obviamente. Um completa o outro. Minha mãe ainda tem a xícara e eu ainda tenho as lembranças.
A segunda foi a minha primeira série (agora ano) do Ensino Fundamental. Iniciava o 2° semestre. Eu estava chegando à cidade e consequentemente, à escola. Não tinha lápis preto de escrever e minha santa mãe providenciou um: deu-me um lápis preto de colorir. Sabíamos a diferença entre os lápis, que tinham funções diferentes e sabíamos, também, que não tínhamos dinheiro para comprar sequer um de escrever. Vínhamos de outro estado. Tudo era novo: cidade, parentes, costumes, escola, professores e colegas. Se não bastasse isso para mim, eu não tinha lápis. Lápis de escrever. Que vergonha: ir para a aula sem lápis. Já em aula, a professora alertou-me sobre o “equívoco” do lápis. Pediu que minha mãe comprasse outro para o dia seguinte. Disse que sim. Falei com a mãe, ela constrangida disse que não podia naquele dia, No outro dia tentei esconder minha mão, debrucei-me sobre o caderno, não ergui os olhos, mas a professora aproximou-se, olhou para minha mão e chamou minha atenção quando viu que eu não tinha comprado outro. Disse-lhe que havia me esquecido de falar para minha mãe. Deu-me, insensivelmente, mais um dia de prazo para providenciar outro. Que agonia! Que tristeza! Como falar pra minha mãe sem magoá-la mais? Resultado. Sem lápis e sem dinheiro, fiquei uns dias em casa dizendo que não estava bem, até que ganhei de uma tia um lápis para escrever. Abençoada tia.
O papel da professora vai muito além de ensinar conteúdos e ter sensibilidade é o primeiro requisito exigido para ser uma boa educadora, que desempenha vários papéis em sala de aula, dentre eles, de professora. A minha não tinha.
A pobreza cobra seu preço e só paga, pasmem, quem não tem dinheiro.
rosane.r.gelati@gmail.com
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sensibilidade
A metamorfose da saudade
Rosane Roehrs Gelati
3º lugar - Concurso Literário Larí Franchescheto – Triunfo – RS
A saudade corrói. É triste e suave. Ela nos torna amargos, chorosos e saudosos.
Quando chega, faz com que tudo lembra quem ou o que deixou saudades. Chega e se instala. Faz-se de tudo para espantá-la, mas não adianta. Ela fica, faz casa bem rapidinho dentro do coração e da mente. Tudo, mas tudo mesmo lembra o que não se quer lembrar. É dona do último pensamento de um dia e do primeiro do outro dia. Só dá ela. Não sai. Não dá trégua. O sorriso é saudoso. A lágrima é saudosa. A brincadeira é saudosa. Nada a espanta ou a afasta. Ela é companheira inseparável e imensurável, apaixonada e dedicada, cruel e assassina, leva embora a alegria, tira o sossego, a paz. É ela quem dirige nossa vida agora.
O vento é motivo de saudades! A chuva também!! O sol igualmente!! Uma música, um brinquedo, um espelho, uma fotografia, uma comemoração, um amigo, uma colega, uma rua, um carro, um aroma, a fragrância de um perfume... traz lembranças... traz saudades.... Melancolia!! Nostalgia!!!
Primeiro, lágrimas, muitas lágrimas, lamentações, choro compulsivo. Vontade de sumir, de morrer... Aquela sensação de sufoco, de inquietude, de desconforto.
Lentamente a dor vai amenizando, as lágrimas diminuem, tornam-se escassas. Chega o tempo que somente uma ou outra insiste em escorrer.
O sorriso retoma seu lugar.
A saudade se transforma. Passa a gostosa lembrança.
Contudo, basta um motivo banal para que tudo seja revivido e sentido. E ela está lá novamente, talvez com mais suavidade, mas batendo o ponto, dizendo que nunca se foi totalmente, somente... deu um tempo...
rosane.r.gelati@gmail.com
3º lugar - Concurso Literário Larí Franchescheto – Triunfo – RS
A saudade corrói. É triste e suave. Ela nos torna amargos, chorosos e saudosos.
Quando chega, faz com que tudo lembra quem ou o que deixou saudades. Chega e se instala. Faz-se de tudo para espantá-la, mas não adianta. Ela fica, faz casa bem rapidinho dentro do coração e da mente. Tudo, mas tudo mesmo lembra o que não se quer lembrar. É dona do último pensamento de um dia e do primeiro do outro dia. Só dá ela. Não sai. Não dá trégua. O sorriso é saudoso. A lágrima é saudosa. A brincadeira é saudosa. Nada a espanta ou a afasta. Ela é companheira inseparável e imensurável, apaixonada e dedicada, cruel e assassina, leva embora a alegria, tira o sossego, a paz. É ela quem dirige nossa vida agora.
O vento é motivo de saudades! A chuva também!! O sol igualmente!! Uma música, um brinquedo, um espelho, uma fotografia, uma comemoração, um amigo, uma colega, uma rua, um carro, um aroma, a fragrância de um perfume... traz lembranças... traz saudades.... Melancolia!! Nostalgia!!!
Primeiro, lágrimas, muitas lágrimas, lamentações, choro compulsivo. Vontade de sumir, de morrer... Aquela sensação de sufoco, de inquietude, de desconforto.
Lentamente a dor vai amenizando, as lágrimas diminuem, tornam-se escassas. Chega o tempo que somente uma ou outra insiste em escorrer.
O sorriso retoma seu lugar.
A saudade se transforma. Passa a gostosa lembrança.
Contudo, basta um motivo banal para que tudo seja revivido e sentido. E ela está lá novamente, talvez com mais suavidade, mas batendo o ponto, dizendo que nunca se foi totalmente, somente... deu um tempo...
rosane.r.gelati@gmail.com
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O Amargo sabor do Pirulito
Rosane Roehrs Gelati
Publicado na antologia poética do Prêmio Literário de Porto Seguro de Contos 2009
Faz aproximadamente quatro décadas que aconteceu o que vou contar. Eu tinha quatro anos. Morávamos no interior de Nova Santa Rosa, no Paraná, local onde eu nasci. Hoje já é emancipado, naquela época ainda não o era. Pertencia ao município de Toledo. Vim para o Rio Grande do Sul com sete anos.
Foi num dia de verão, tinha muito sol. Brinquei todo dia com meus irmãos. Raramente minha mãe se deslocava para a “vila”. Ficávamos radiantes quando isso acontecia, pois ela sempre voltava com alguma “coisa boa” para nós. Era bala, pirulito ou algo parecido. Sou a segunda dos quatro filhos que meus pais tiveram. Temos pouca diferença de idade. Bem, mas vamos ao caso. Minha mãe saiu pela manhã e só voltou à tarde. Meu pai e meu irmão mais velho, o César, que tinha cinco anos na época, foram pegar um cavalo no potreiro. Meu pai pediu-me para cuidar dos meus irmãos menores, para não deixá-los sair de onde estavam, pois era perigoso. Tinha uma vaca pouco amigável. O Airton tinha três anos e a Nica estava com um ano e por sorte minha, dormia como um anjo no carrinho numa sombra perto de nós. Lá estava eu, magrinha, sardenta, pequena, sentadinha perto da cerca e segurando a mão do Airton, olhando o pai e o César.
Eram aproximadamente dezessete horas. Eles estavam a uns cem metros de distância tentando pegar o dito cujo cavalo. Era interessante vê-los correr atrás de um cavalo, tentando laçá-lo e o cavalo desviando-os. Quando olhei para o lado, bem distante, avistei minha mãe. Ela estava a pé, é claro, e para encurtar distâncias, atravessou o potreiro. Não deu outra, saí em disparada, correndo como uma maluca para encontrá-la, bracinhos abertos, um sorriso tamanho do mundo, gritando “manhêêêê”. É inexplicável como lembro do fato como se fosse ontem. Visualizo minha mãe também correndo e gritando. Meu pai gritava, todos gritavam e eu não tinha entendido. Achei que todos estavam felizes como eu. Quando olhei para trás, vi que a vaca chamada Fumaça estava chifrando meu irmãozinho. Jogava-o contra uma parede, dava uns passos para trás e novamente pagava-o com os chifres e jogava-o longe. Era a minha vaca que estava tentando matar meu irmão. Apesar de nunca ter chegado perto dela, eu gostava daquele animal. Diziam que era minha e para mim esse já era um bom motivo para gostar do bichinho. E era bonita a danada, tinha um pêlo claro, liso, era bem gorda, ainda não tinha sido mãe. Foi uma cena horrível e inesquecível. Ela só não o matou porque meu pai conseguiu pegá-lo uma das vezes que a vaca o jogou com seus chifres contra uma parede que havia no local.
Bem, o pior para meu irmão tinha passado, mas para mim estava ainda por vir. A Fumaça já tinha levado várias chicotadas e continuava espumando, andando rapidamente de lá para cá, furiosa.
Minha mãe socorreu o Airton, e meu pai resolveu castigar-me. Acho que seria melhor para mim se a própria Fumaça me castigasse. Ele “delicadamente” foi me chutando, creio eu que por uns cinquenta metros. Calçava umas botas pretas de cano longo, essas que se usa para enfrentar barro, chuva, para cavalgar ou tantas outras coisas. Eu rolei com seus delicados chutes, até um poço artesiano que tinha em frente à porta de nossa casa. Deu-me mais umas “cintadas” para que eu “obedecesse na próxima vez”, com certeza não pensou no que fazia, pois o que ele fez comigo, foi bem parecido com o que a vaca fez com o meu irmão. Acho que desmaiei, somente lembro-me da mãe chorando e tentando atender os machucados do Airton e defender-me da fúria de meu pai. Consigo sentir o gosto de terra na boca, pois o chão estava muito seco e tinha muita poeira. Meus cabelos eram fininhos e a pele era clara, como até hoje, por isso alguns me chamavam de “gringuinha”. Todo meu minúsculo corpo doía e tinha terra. Santa mãe. Aliás, acho que essa é uma das funções que as mães sempre têm: apaziguar.
Ah, os pirulitos e as balas? Não me lembrei de perguntar se a mãe os havia trazido. E depois de tudo o que tinha acontecido, eu nem queria, acho que teria um gosto muito amargo. A vaca foi vendida para evitar novos incidentes. Lá se foi a Fumaça.
Bem, sobrevivemos. Atribuo a este fato a minha pouca simpatia a vacas, bois e “seus derivados”. Tenho medo deles. Prefiro animais mais inofensivos, do tipo peixes, pássaros....
Publicado na antologia poética do Prêmio Literário de Porto Seguro de Contos 2009
Faz aproximadamente quatro décadas que aconteceu o que vou contar. Eu tinha quatro anos. Morávamos no interior de Nova Santa Rosa, no Paraná, local onde eu nasci. Hoje já é emancipado, naquela época ainda não o era. Pertencia ao município de Toledo. Vim para o Rio Grande do Sul com sete anos.
Foi num dia de verão, tinha muito sol. Brinquei todo dia com meus irmãos. Raramente minha mãe se deslocava para a “vila”. Ficávamos radiantes quando isso acontecia, pois ela sempre voltava com alguma “coisa boa” para nós. Era bala, pirulito ou algo parecido. Sou a segunda dos quatro filhos que meus pais tiveram. Temos pouca diferença de idade. Bem, mas vamos ao caso. Minha mãe saiu pela manhã e só voltou à tarde. Meu pai e meu irmão mais velho, o César, que tinha cinco anos na época, foram pegar um cavalo no potreiro. Meu pai pediu-me para cuidar dos meus irmãos menores, para não deixá-los sair de onde estavam, pois era perigoso. Tinha uma vaca pouco amigável. O Airton tinha três anos e a Nica estava com um ano e por sorte minha, dormia como um anjo no carrinho numa sombra perto de nós. Lá estava eu, magrinha, sardenta, pequena, sentadinha perto da cerca e segurando a mão do Airton, olhando o pai e o César.
Eram aproximadamente dezessete horas. Eles estavam a uns cem metros de distância tentando pegar o dito cujo cavalo. Era interessante vê-los correr atrás de um cavalo, tentando laçá-lo e o cavalo desviando-os. Quando olhei para o lado, bem distante, avistei minha mãe. Ela estava a pé, é claro, e para encurtar distâncias, atravessou o potreiro. Não deu outra, saí em disparada, correndo como uma maluca para encontrá-la, bracinhos abertos, um sorriso tamanho do mundo, gritando “manhêêêê”. É inexplicável como lembro do fato como se fosse ontem. Visualizo minha mãe também correndo e gritando. Meu pai gritava, todos gritavam e eu não tinha entendido. Achei que todos estavam felizes como eu. Quando olhei para trás, vi que a vaca chamada Fumaça estava chifrando meu irmãozinho. Jogava-o contra uma parede, dava uns passos para trás e novamente pagava-o com os chifres e jogava-o longe. Era a minha vaca que estava tentando matar meu irmão. Apesar de nunca ter chegado perto dela, eu gostava daquele animal. Diziam que era minha e para mim esse já era um bom motivo para gostar do bichinho. E era bonita a danada, tinha um pêlo claro, liso, era bem gorda, ainda não tinha sido mãe. Foi uma cena horrível e inesquecível. Ela só não o matou porque meu pai conseguiu pegá-lo uma das vezes que a vaca o jogou com seus chifres contra uma parede que havia no local.
Bem, o pior para meu irmão tinha passado, mas para mim estava ainda por vir. A Fumaça já tinha levado várias chicotadas e continuava espumando, andando rapidamente de lá para cá, furiosa.
Minha mãe socorreu o Airton, e meu pai resolveu castigar-me. Acho que seria melhor para mim se a própria Fumaça me castigasse. Ele “delicadamente” foi me chutando, creio eu que por uns cinquenta metros. Calçava umas botas pretas de cano longo, essas que se usa para enfrentar barro, chuva, para cavalgar ou tantas outras coisas. Eu rolei com seus delicados chutes, até um poço artesiano que tinha em frente à porta de nossa casa. Deu-me mais umas “cintadas” para que eu “obedecesse na próxima vez”, com certeza não pensou no que fazia, pois o que ele fez comigo, foi bem parecido com o que a vaca fez com o meu irmão. Acho que desmaiei, somente lembro-me da mãe chorando e tentando atender os machucados do Airton e defender-me da fúria de meu pai. Consigo sentir o gosto de terra na boca, pois o chão estava muito seco e tinha muita poeira. Meus cabelos eram fininhos e a pele era clara, como até hoje, por isso alguns me chamavam de “gringuinha”. Todo meu minúsculo corpo doía e tinha terra. Santa mãe. Aliás, acho que essa é uma das funções que as mães sempre têm: apaziguar.
Ah, os pirulitos e as balas? Não me lembrei de perguntar se a mãe os havia trazido. E depois de tudo o que tinha acontecido, eu nem queria, acho que teria um gosto muito amargo. A vaca foi vendida para evitar novos incidentes. Lá se foi a Fumaça.
Bem, sobrevivemos. Atribuo a este fato a minha pouca simpatia a vacas, bois e “seus derivados”. Tenho medo deles. Prefiro animais mais inofensivos, do tipo peixes, pássaros....
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