segunda-feira, 20 de setembro de 2010

AINDA HÁ TEMPO - 2º lugar na escola

Instituto Estadual de Educação Elisa Ferrari Valls
Aluno: José Matheus da Silva Ferreira / Turma: 1° C / Professora: Rosane Roehrs Gelati
OLIMPÍADA DE LÍNGUA PORTUGUESA – ESCRVENDO O FUTURO
Crônica- “O lugar onde vivo” (tema)

Ainda há tempo

Olhei o mundo hoje. Vi muita coisa, algumas posso descrever, outras não.
Ao meu redor vejo guerras, brigas, violência e outros fatos que abalam qualquer um que os vê. Será que a paz sumiu? Será que não existe mais esperança no lugar onde vivo? Dizem que “A esperança é a última que morre” e creio que seja verdade, pois o mundo ainda não acabou.
Continuo olhando a minha volta. Vejo a alegria no sorriso de uma criança. Vejo um olhar que sonha com um mundo melhor. Paralelamente ao mal, caminha o bem, que está esperando para ser concretizado, ser aplicado, ser vivido. Fica na responsabilidade e sensibilidade de cada um, de cada pessoa que vive aqui, praticá-lo.
Por que existe um mundo? Por que de sua forma? Existem vários planetas, mas por que o nosso foi escolhido para acolher a vida do menor ao maior? É um mistério que leva a outros mistérios e várias pessoas tentaram descobri-lo, tentaram responder, várias palavras tentaram descrever sua existência. Nenhuma conseguiu.
Ao meu redor encontro pessoas que não consigo entender, pessoas “difíceis”. Estou intrigado com isso. São pessoas tão diferentes umas das outras.
Depois de ter olhado tudo a minha volta, percebo que estou em um só lugar, mas minha mente viaja a esmo, vendo tudo o que acontece: jornalismo, reportagens, entrevistas e sites. Falam do que acontece mundo a fora e o que a tecnologia nos proporciona: conhecer o mundo sem sair do lugar.
O mundo não é um caos. Apesar das guerras, do aquecimento global, assassinatos e outras tantas formas de violência, há tempo de mudar. Estou aqui e o que acontece nos países mais desenvolvidos nos afetará cedo ou tarde. O tempo não está a nos esperar para ouvir que vamos mudar, ele não espera, porém, há tempo para consertar o que não está legal. Ainda podemos fazer algo novo que chame a atenção, que mostre a diferença de quem mudou.
Podemos mudar, agora, o lugar onde moramos, estudamos, trabalhamos, nos divertimos, começando por nós mesmos, buscando e oferecendo o que temos de melhor. Basta querer.

A VERDADE NUA E CRUA - texto destaque

Instituto Estadual de Educação Elisa Ferrari Valls
Aluna: Camilla Junges / Turma: 1° A / Professora: Rosane Roehrs Gelati
OLIMPÍADA DE LÍNGUA PORTUGUESA – ESCRVENDO O FUTURO
Crônica- “O lugar onde vivo” (tema)


A verdade nua e crua

Olhando ao meu redor, enquanto penso o que escrever, vejo o que sempre vi, mas poucas vezes parei para refletir, criticar ou simplesmente admirar e aproveitar. Sabe o que vejo? A vida. Muitos de nós caímos nesse modo repetitivo de viver, que chamamos de rotina, e esquecemos, ou por obrigação não podemos fazer o que deve ser feito: viver e ser feliz.
Quase 50% das pessoas acreditam que para ser feliz, é preciso ter muito dinheiro, os outros 50% não querem nem ver o dinheiro. Qual é a graça de ter um papel na mão? O bom mesmo é o que ele pode comprar! Mas de fato, 100% da população concordam que o dinheiro é o que faz o mundo girar.
Em função do tal do dinheiro, surge a riqueza, a pobreza, e também aquele velho ditado: “Você tem 3 chances de ser rico: nascer rico, casar com rico ou ganhar na loteria”, muitos acrescentam uma chance a mais nesse ditado, que é ser corrupto. Será que o trabalho digno não enriquece? A resposta da maioria é não, mas há sonhadores que dizem que vão mudar essa situação, e também há aqueles que dizem que nasceram no esgoto e com trabalho duro hoje moram em belas casas, dirigem belos carros, vestem roupas de marca, mas quem garante que não houve um pingo de corrupção nessa história? Eu acredito que por enquanto essa pergunta fica sem resposta. Sem resposta? Isso mesmo, tem certas coisas nesse mundo que para muitos é mais conveniente que fiquem sem resposta, e nós nos contentamos com explicações sem sentido, como esta que eu estou dando, que são tão convincentes que nos calamos e acreditamos que é a real resposta, e muitas vezes acabam com outras perguntas para intimidar, isso não lhe parece familiar?
Você deve estar se perguntando: Em que parte disso tudo fica a descrição do lugar onde eu vivo? Se você ainda quer que eu responda, tudo bem: Moro em um lindo lugar chamado Terra, que está pedindo socorro, não aguenta mais ser agredida por seus filhos, que são pessoas mal agradecidas, ou melhor dizer, monstros destruidores, que só pensam em si, passam por cima de tudo para alcançar deus objetivos, mal sabem que no fim vai dar no mesmo, rico ou pobre, tanto faz, é descartável, um dia morre, apodrece e fim, uma vida bem aproveitada não pode ser medida em m² de uma casa ou em dígitos no saldo de uma poupança, muito menos em tempo que se vive, e sim, na quantidade e qualidade de alegrias além do “material”, das amizades que se faz e do bem que se pratica a si mesmo e ao próximo, pois: “O bem que praticares, será teu advogado em toda parte” (Citação de Chico Xavier).
Então, vai ficar aí calado e satisfeito? Ou vai atrás das respostas?

A TV NOSSA DE CADA DIA - texto destaque

Instituto Estadual de Educação Elisa Ferrari Valls
Aluno: Dionathan Mandeita / Turma: 1° D / Professora: Rosane Roehrs Gelati
OLIMPÍADA DE LÍNGUA PORTUGUESA – ESCRVENDO O FUTURO
Crônica- “O lugar onde vivo” (tema)

A TV NOSSA DE CADA DIA

A televisão está presente na vida de todos nós e é uma grande rede de informação e entretenimento, o que faz despertar diversas opiniões nos telespectadores. Será que há possibilidade dela influenciar no nosso dia-a-dia?

Muitos jovens ao assistirem determinada programação, tendem a ver e interpretar as coisas de acordo como foi mostrado, nas telenovelas principalmente.

O fato de o emissor propor tais conteúdos, muitas vezes impróprios para jovens que nessa idade estão em fase de formação do caráter e é uma etapa importante da vida, exige uma maior atenção e cuidado por parte dos pais. Por isso, deve-se estar atento com o conteúdo dos programas que suas crianças e jovens estão assistindo. Precisa-se ter cuidado com a exposição deles a certos programas.

Portanto, tem de haver diálogo entre pais e filhos, explicando-lhes os motivos da censura de alguns programas, bem como o bom senso dos responsáveis para ajudar na escolha da programação apropriada e adequada a sua faixa etária. Melhor seria aderir a programas de inclusão social e educacional e impossibilitar, parcialmente, o acesso a conteúdos como novelas.

domingo, 29 de agosto de 2010

Olimpíada de Língua Portuguesa - Escrevendo o Futuro

O Instituto Estadual de educação Elisa Ferrari Valls, participou da Olimpíada de Língua Portuguesa - Escrvendo O Futuro/2010. Os primeiros anos do Ensino Médio de todo país concorriam pelo gênero Crônica e o tema era “O lugar onde vivo”. Incontáveis foram os textos participantes, mas somente um pôde ser escolhido. Foram selecionados alguns e os finalistas do noturno foram dos seguintes alunos e suas respectivvas turmas:
2º lugar na escola: Aluno: José Matheus da Silva Ferreira / Turma: 1° C, ,
Destaques:
a) Aluno: Dionathan Mandeita / Turma: 1° D /
b) Aluna: Camilla Junges / Turma: 1° A
Quem quiser conhecer os texto, estão no blog www.espichandoaconversa.blogspot.com.a partir de segunda-feira, dia 30/08.
Parabéns aos alunos participantes e principalmente aos finalistas. Um forte abraço da professora Rosane

ESCOLA: vilã ou vítima?

Rosane Roehrs Gelati
Publicado no Jornal Tribuna de Uruguaiana em 18/06/2010 e no
periódico Letras Santiaguenses em julho/agosto 2010

A educação sempre merece ser debatida. Precisamos rever alguns conceitos e valores. Devemos olhar de frente os problemas educacionais.
Dois fatos me fazem refletir: uma frase de uma Delegada de Polícia e uma crônica do Juremir Machado da Silva (Correio do Povo 04/05/10).
O primeiro fato, a frase de uma Delegada, em palestra para alunos de Ensino Médio foi mais ou menos assim: “A ficha suja de um jovem vai acompanhá-lo para sempre; pesa muito se fizer um concurso para Juiz, Promotor, Inspetor, Advogado e até mesmo para Professor”. Na plateia, vários Professores. Tentou consertar. Não deu. Foi espontâneo, natural. Falou o que pensava. “Até para Professor”. Ela disse o que a maioria pensa: profissão de pouco reconhecimento. Ela esqueceu seus professores?
Associamos a qualidade ao salário? Como se qualificar se o professor não tem dinheiro nem para pagar a assinatura de um jornal? Como estar atualizado se ele trabalha doze horas diárias, em três turnos e às vezes, em escolas diferentes, além das atividades extraclasses? Internet? É preciso ter computador e a manutenção é cara. As aulas deixam a desejar? Claro que deixam, é o famoso efeito cascata e a escola é o final da linha.
A educação vai mal há décadas e a causa não é o mau desempenho da escola. Este desempenho é consequência do que não está bem na sociedade. Os investimentos aumentaram, mas são insuficientes e ainda não sentimos os efeitos positivos. O processo é lento e deve ser abraçado por todos e por todos os governos.
Há uma década foram criadas metas para a educação com o slogan “Todos Pela Educação”. São metas pedagógicas e econômicas, mas em investimento; nada na melhoria de salário. Muito lindo: “Toda a criança e jovem de 4 a 17 anos na escola”, “Investimento na educação ampliado e bem gerido”. Onde está a valorização do professor? Agora foi aprovado o CAQi (Custo Aluno-Qualidade Inicial). Talvez seja aquilo que espero, pois “estabelece insumos fundamentais para garantir a aprendizagem dos estudantes...”
Educação não é sinônimo de sacerdócio. Se o salário não é importante, por que existem profissões bem pagas?
Metas são necessárias e precisam ser cobradas pelos governantes, porém, paralelamente a isso precisa haver investimento e valorização. Também é necessário dividir os bons resultados, quando os têm, com as escolas. O mau desempenho deve ser dividido, pois, além de injusto, o fardo é muito pesado para ser carregado sozinho pelas escolas.
O segundo fato foi o texto Ode aos professores. Eram mais de 23 horas quando voltei do colégio. Peguei o jornal para me informar, relaxar e depois dormir. Ganhei o dia. Alegrei-me um pouco por não estar sozinha e esquecer o que a Delegada disse. Deu-me forças para continuar lutando. O cronista fala aquilo que muitos não querem ler, falar ou ouvir: os professores são vítimas, não vilões. Comungo com suas ideias. Existem professores muuuuuuuito bons, excelentes, ótimos e mal remunerados nos serviços público e no privado. O magistério tem “suas pérolas”, mas qual a profissão que não as tem?
Precisamos corrigir as distorções das escolas e mesmo com um salário pequeno, preciso dar o melhor a meus alunos, pois eles são tão vítimas quanto o restante da sociedade com uma política despreocupada com os direitos constitucionais dos cidadãos. O desempenho dos professores depende de muitos fatores e não podemos nos esquecer daqueles que têm as rédeas da educação. O papo que o professor dentro da sala de aula faz acontecer, se quiser, é verdade, mas dentro da limitação imposta, como ao cirurgião em uma cirurgia se lhe faltar material. O professor, hoje, precisa concorrer com a internet, os videogames e a televisão. Estamos na era da informática, dos lares desfeitos, da geração que pratica o bullyng a alunos e professores, da falta de ética e respeito, de pais que não acompanham os filhos, de uma avalanche de drogas pesadas e isso tudo vai para a sala de aula. Vire-se professor. Você está sendo pago para resolver. Poupem-me. Fiquem na frente de trinta a cinquenta alunos algumas horas e voltamos a conversar.
A educação tem solução. É só concretizar os planos de campanha eleitoral. É questão de prioridade e de atitude. Tá na hora de mudar o foco. Hoje, é preciso muita categoria para ser Professor.
rosane.r.gelati@gmail.com

A pobreza cobra seu preço

Rosane Roehrs gelati
Destaque no Concurso Literário Larí
Francescheto – Triunfo - RS


Era véspera do dia das mães e eu estava fazendo na minha “visita” semanal no supermercado. Com o chimarrão na mão, em pé aguardando a vez, trocando o peso de perna para não cansar muito, acompanhada da minha filha, percebi na fila ao lado duas menininhas, que pela semelhança fisionômica, concluí serem irmãs. Não havia contraste com a aparência humilde e o que seguravam para embrulhar. Cada uma possuía um pequeno pote de plástico transparente com tampa colorida, comprado nas lojas de R$ 1,00. Ao ser atendida, colocando os bracinhos sobre o balcão, olhos atentos, mostrando timidamente o que tinha na mão, uma pediu à atendente para fazer um embrulho para dar de presente à mãe.
O que era para ser somente um momento na fila para empacotar um presente transformou-se em uma, aliás, duas viagens ao passado, refletido naquilo que eu vi. A Psicologia explica essa volta ao passado diante de uma situação semelhante vivida por nós.
A primeira viagem foi a um remoto dia das mães, quando pequena eu e meus irmãos tínhamos comprado uma xícara com os dizeres “Querida mamãe” para dá-la a nossa mãe. Éramos quatro irmãos e não tínhamos dinheiro nenhum, nosso pai nem lembrava que dia era aquele. Compramos na cooperativa em que éramos associados por sermos agricultores, “na conta”. Fizemos um cartão e pacote simples e entregamos à mãe. Ela gostou. Elas sempre gostam. Mas quem não quer dar algo mais à mãe do que uma xícara ou um pote de plástico? Podem me chamar de materialista. Sei que sou, que todos somos, que vivemos num mundo capitalista e só prega que não é importante o dinheiro, quem o tem em abundância. As teorias de desapego e antimaterialista são feitas, normalmente, por quem recebe e dá enoooooormes presentes. Senti um aperto no peito, acompanhado de um misto de revolta e indignação. Um presente melhorzinho não faz mal a ninguém, normalmente o efeito positivo é maior em quem dá do quem em quem recebe. É claro que a gratidão, o carinho, o amor, etc... devem ser valorizados e acompanhar o embrulho. Obviamente. Um completa o outro. Minha mãe ainda tem a xícara e eu ainda tenho as lembranças.
A segunda foi a minha primeira série (agora ano) do Ensino Fundamental. Iniciava o 2° semestre. Eu estava chegando à cidade e consequentemente, à escola. Não tinha lápis preto de escrever e minha santa mãe providenciou um: deu-me um lápis preto de colorir. Sabíamos a diferença entre os lápis, que tinham funções diferentes e sabíamos, também, que não tínhamos dinheiro para comprar sequer um de escrever. Vínhamos de outro estado. Tudo era novo: cidade, parentes, costumes, escola, professores e colegas. Se não bastasse isso para mim, eu não tinha lápis. Lápis de escrever. Que vergonha: ir para a aula sem lápis. Já em aula, a professora alertou-me sobre o “equívoco” do lápis. Pediu que minha mãe comprasse outro para o dia seguinte. Disse que sim. Falei com a mãe, ela constrangida disse que não podia naquele dia, No outro dia tentei esconder minha mão, debrucei-me sobre o caderno, não ergui os olhos, mas a professora aproximou-se, olhou para minha mão e chamou minha atenção quando viu que eu não tinha comprado outro. Disse-lhe que havia me esquecido de falar para minha mãe. Deu-me, insensivelmente, mais um dia de prazo para providenciar outro. Que agonia! Que tristeza! Como falar pra minha mãe sem magoá-la mais? Resultado. Sem lápis e sem dinheiro, fiquei uns dias em casa dizendo que não estava bem, até que ganhei de uma tia um lápis para escrever. Abençoada tia.
O papel da professora vai muito além de ensinar conteúdos e ter sensibilidade é o primeiro requisito exigido para ser uma boa educadora, que desempenha vários papéis em sala de aula, dentre eles, de professora. A minha não tinha.
A pobreza cobra seu preço e só paga, pasmem, quem não tem dinheiro.

rosane.r.gelati@gmail.com

A metamorfose da saudade

Rosane Roehrs Gelati
3º lugar - Concurso Literário Larí Franchescheto – Triunfo – RS

A saudade corrói. É triste e suave. Ela nos torna amargos, chorosos e saudosos.
Quando chega, faz com que tudo lembra quem ou o que deixou saudades. Chega e se instala. Faz-se de tudo para espantá-la, mas não adianta. Ela fica, faz casa bem rapidinho dentro do coração e da mente. Tudo, mas tudo mesmo lembra o que não se quer lembrar. É dona do último pensamento de um dia e do primeiro do outro dia. Só dá ela. Não sai. Não dá trégua. O sorriso é saudoso. A lágrima é saudosa. A brincadeira é saudosa. Nada a espanta ou a afasta. Ela é companheira inseparável e imensurável, apaixonada e dedicada, cruel e assassina, leva embora a alegria, tira o sossego, a paz. É ela quem dirige nossa vida agora.
O vento é motivo de saudades! A chuva também!! O sol igualmente!! Uma música, um brinquedo, um espelho, uma fotografia, uma comemoração, um amigo, uma colega, uma rua, um carro, um aroma, a fragrância de um perfume... traz lembranças... traz saudades.... Melancolia!! Nostalgia!!!
Primeiro, lágrimas, muitas lágrimas, lamentações, choro compulsivo. Vontade de sumir, de morrer... Aquela sensação de sufoco, de inquietude, de desconforto.
Lentamente a dor vai amenizando, as lágrimas diminuem, tornam-se escassas. Chega o tempo que somente uma ou outra insiste em escorrer.
O sorriso retoma seu lugar.
A saudade se transforma. Passa a gostosa lembrança.
Contudo, basta um motivo banal para que tudo seja revivido e sentido. E ela está lá novamente, talvez com mais suavidade, mas batendo o ponto, dizendo que nunca se foi totalmente, somente... deu um tempo...
rosane.r.gelati@gmail.com

O Amargo sabor do Pirulito

Rosane Roehrs Gelati
Publicado na antologia poética do Prêmio Literário de Porto Seguro de Contos 2009

Faz aproximadamente quatro décadas que aconteceu o que vou contar. Eu tinha quatro anos. Morávamos no interior de Nova Santa Rosa, no Paraná, local onde eu nasci. Hoje já é emancipado, naquela época ainda não o era. Pertencia ao município de Toledo. Vim para o Rio Grande do Sul com sete anos.
Foi num dia de verão, tinha muito sol. Brinquei todo dia com meus irmãos. Raramente minha mãe se deslocava para a “vila”. Ficávamos radiantes quando isso acontecia, pois ela sempre voltava com alguma “coisa boa” para nós. Era bala, pirulito ou algo parecido. Sou a segunda dos quatro filhos que meus pais tiveram. Temos pouca diferença de idade. Bem, mas vamos ao caso. Minha mãe saiu pela manhã e só voltou à tarde. Meu pai e meu irmão mais velho, o César, que tinha cinco anos na época, foram pegar um cavalo no potreiro. Meu pai pediu-me para cuidar dos meus irmãos menores, para não deixá-los sair de onde estavam, pois era perigoso. Tinha uma vaca pouco amigável. O Airton tinha três anos e a Nica estava com um ano e por sorte minha, dormia como um anjo no carrinho numa sombra perto de nós. Lá estava eu, magrinha, sardenta, pequena, sentadinha perto da cerca e segurando a mão do Airton, olhando o pai e o César.
Eram aproximadamente dezessete horas. Eles estavam a uns cem metros de distância tentando pegar o dito cujo cavalo. Era interessante vê-los correr atrás de um cavalo, tentando laçá-lo e o cavalo desviando-os. Quando olhei para o lado, bem distante, avistei minha mãe. Ela estava a pé, é claro, e para encurtar distâncias, atravessou o potreiro. Não deu outra, saí em disparada, correndo como uma maluca para encontrá-la, bracinhos abertos, um sorriso tamanho do mundo, gritando “manhêêêê”. É inexplicável como lembro do fato como se fosse ontem. Visualizo minha mãe também correndo e gritando. Meu pai gritava, todos gritavam e eu não tinha entendido. Achei que todos estavam felizes como eu. Quando olhei para trás, vi que a vaca chamada Fumaça estava chifrando meu irmãozinho. Jogava-o contra uma parede, dava uns passos para trás e novamente pagava-o com os chifres e jogava-o longe. Era a minha vaca que estava tentando matar meu irmão. Apesar de nunca ter chegado perto dela, eu gostava daquele animal. Diziam que era minha e para mim esse já era um bom motivo para gostar do bichinho. E era bonita a danada, tinha um pêlo claro, liso, era bem gorda, ainda não tinha sido mãe. Foi uma cena horrível e inesquecível. Ela só não o matou porque meu pai conseguiu pegá-lo uma das vezes que a vaca o jogou com seus chifres contra uma parede que havia no local.
Bem, o pior para meu irmão tinha passado, mas para mim estava ainda por vir. A Fumaça já tinha levado várias chicotadas e continuava espumando, andando rapidamente de lá para cá, furiosa.
Minha mãe socorreu o Airton, e meu pai resolveu castigar-me. Acho que seria melhor para mim se a própria Fumaça me castigasse. Ele “delicadamente” foi me chutando, creio eu que por uns cinquenta metros. Calçava umas botas pretas de cano longo, essas que se usa para enfrentar barro, chuva, para cavalgar ou tantas outras coisas. Eu rolei com seus delicados chutes, até um poço artesiano que tinha em frente à porta de nossa casa. Deu-me mais umas “cintadas” para que eu “obedecesse na próxima vez”, com certeza não pensou no que fazia, pois o que ele fez comigo, foi bem parecido com o que a vaca fez com o meu irmão. Acho que desmaiei, somente lembro-me da mãe chorando e tentando atender os machucados do Airton e defender-me da fúria de meu pai. Consigo sentir o gosto de terra na boca, pois o chão estava muito seco e tinha muita poeira. Meus cabelos eram fininhos e a pele era clara, como até hoje, por isso alguns me chamavam de “gringuinha”. Todo meu minúsculo corpo doía e tinha terra. Santa mãe. Aliás, acho que essa é uma das funções que as mães sempre têm: apaziguar.
Ah, os pirulitos e as balas? Não me lembrei de perguntar se a mãe os havia trazido. E depois de tudo o que tinha acontecido, eu nem queria, acho que teria um gosto muito amargo. A vaca foi vendida para evitar novos incidentes. Lá se foi a Fumaça.
Bem, sobrevivemos. Atribuo a este fato a minha pouca simpatia a vacas, bois e “seus derivados”. Tenho medo deles. Prefiro animais mais inofensivos, do tipo peixes, pássaros....

domingo, 21 de março de 2010

Um cão que não era amigo

Rosane Roehrs Gelati

2° lugar do II Concurso Literário Farroupilha 2010


O portão estava somente encostado. Chamou uma vez. Ninguém apareceu. Mais uma. Nada. Parecia não ter ninguém, mas já que estavam ali, não custava conferir de perto. A casa era antiga, verde escura, janelas de ferro, marrom. O portão de entrada era no lado esquerdo da casa, estreito, só para pessoas, não tinha garagem. O carro “dormia” na rua. Eram mais ou menos 8 ou 9 metros até chegar na primeira porta, que dava acesso para a cozinha. Por ali se costumavam receber as visitas. Mais alguns passos e chegava-se aos fundos. Tudo estava quieto, tinha um sol agradável, era inverno e o local exalava cheiro de limo. O chão de tijolos era esverdeado e um pouco liso, conseqüência da falta de sol naquele local, pois uma enorme árvore fazia sombra. Somente raios dele por ela passavam.

Entrou e encostou o portão. Carregava a caçula de dois anos no colo e caminhando a seu lado, o primogênito que ainda não tinha completado cinco anos.

Ela foi entrando chamando pela dona da casa. Bateu com a mão direita na porta e não obteve resposta, aliás, foi aí que apareceu “alguém”, correndo, latindo e espumando. Surgiu do nada, estava visivelmente contrariado por ser visitado por humanos. Ela só disse “Meu Deus”, apertou firme o bebê no colo e segurou com força a mão do filho como se com isso conseguiria protegê-lo. Em segundos, a vida, e a morte, passou pela sua mente. Ela somente conseguiu dizer ”Não se mexam”. O cachorro correu em direção dos três e pousou suas patas dianteiras sobre o braço da mãe que amparava o bebê, quase os derrubando. O cachorro era um buldogue enorme, preto, sua cabeça e boca estavam na mesma altura do rosto do bebê. Seus olhos faiscavam. O choro e os gritos foram engolidos. Tudo parou. O cachorro estava ofegante, encarando um a um, impaciente, esperando qualquer ação dos humanos para poder agir, defender o seu território, já que os invasores não haviam lhe pedido licença para entrar.

Cada segundo pareceu uma eternidade. O raciocínio foi rápido. Nenhum movimento brusco, nenhum grito. Nada. Foi isso que ouviu durante toda sua vida ”o animal só ataca se sentir ameaçado”. Até os sons dos pássaros das árvores cessaram. Congelaram a imagem. Foi como se dessem um “pause” no controle remoto. Talvez por um ou dois minutos ficaram os quatro, frente a frente, testando e mantendo o controle dos nervos. O esperado aconteceu. O cachorro baixou as patas: estavam todas no chão. Primeira vitória dela e dos filhos. O choro quis aparecer, mas foi contido novamente. Permaneceram mais algum tempo assim. Tinha que fazer alguma coisa. A oportunidade apareceu quando o cão deu meia volta, caminhou uns três metros e se deitou, patas dianteiras cruzadas, cabeça erguida, ofegante, olhos atentos, encarando-os. Nada passava despercebido. Volta e meia erguia-se, observava e novamente acomodava-se. A mãe aproveitou a oportunidade para tentarem sair com vida daquele lugar.

- Fiquem bem quietinhos, vai dar tudo certo, o anjo da guarda está aqui cuidando de nós. O cachorro já é quase nosso amigo. Mano, faz como a mãe, vai andando para trás sem se virar, mexa somente os pés, bem devagarinho, com bastante calma. Ela se perguntava o que é que um cachorro daqueles estava fazendo ali, solto, sem focinheira, dentro do pátio da casa, é claro, mas o portão só estava encostado, e no interior, não precisa marcar hora para visitar uma amiga. Aliás, não precisava, pois se tivesse marcado a visita, com certeza não estariam correndo perigo.

E assim começaram a se mover. A lenta saída poderia ser a salvação ou a desgraça. Novo susto. Imediatamente foram surpreendidos pelo cachorro de pé, no lado deles. O medo os paralisou. Mais algum tempo e o cachorro novamente se afastou e acomodou-se numa posição do tipo “Tô de olho em vocês.” A “paquera” entre o animal e os humanos continuava.

Era uma rua central, movimentada, mas naquele momento, ninguém passou por ali para socorrê-los, talvez fosse melhor assim, não se sabe.

Os minutos pareciam horas. Lentamente continuaram a saída discretíssima. O cachorro parecia estar entendendo tudo. O portão foi aberto com muita calma, para não despertar a raiva do indesejado animal. Clic. O portão se abriu. O cachorro levantou e foi lentamente na direção deles. Com um sinal, o menino saiu. A mãe esperou ele se afastar um pouco. O cachorro parou novamente. Passaram-se mais alguns segundos e, ela, com o bebê no colo, sempre no mesmo braço, deu mais uns passos sem erguer os pés. Tudo quieto. O cão continuava encarando os visitantes, mas parado, língua de fora. Ela estava tocando o portão com a mão e sabia que era a hora de dar o último passo para fora daquele lugar. Foi aí que sempre encarando o animal, deu o tão esperado passo da liberdade. Ela saiu e fechou o portão imediatamente. Na mesma hora o cachorro já estava no portão, latindo, espumando. Andaram um pouco os três, chorando baixinho. Pararam. Não conseguiam mais caminhar. Sentiam um peso enorme nas pernas. Se olharam e choraram. Estavam os três abaixados, abraçados e chorando. Assim permaneceram, como a se consolarem, precisavam daquele momento. Ainda o pavor tomava conta. Viveram um momento único e muito desgastante. A liberdade estava do lado deles, não corriam mais perigo, mas choravam, de tristeza, de alegria, por estarem bem, por estarem vivos.

Levantaram, começaram a se recompor e o menino disse:

- Posso contar pro pai?

- Pode, querido, pode sim. Beijaram-se e foram andando. Planejando como contar a aventura, pois afinal de contas, não se passa por uma situação como essa todo dia. A pequena permanecia abraçada na mãe, um abraço bem apertado, bico na boca, cabecinha caída no ombro de sua mãezinha, olhinhos com lágrimas.

O que ele foram fazer lá? Buscar uma informação sobre o avô. Somente e dona da casa sabia do paradeiro dele. Mas não foi desta vez que obtiveram notícias do velho.

- Quero mamá!

- A mãezinha já faz, tá?

Parece que o sol estava mais claro, o dia mais lindo, talvez o mais lindo de todos até então.